Matt Kramer, jornalista de vinhos de Portland, EUA, costuma dizer que para conhecer um vinho é necessário bebê-lo em diversos momentos de sua maturação.
Existe outra dimensão na compreensão do vinho: visitar aonde ele é criado, respirando o ar da região, conversando com o enólogo, vivendo e compreendendo o ambiente onde a bebida nasceu.
Posso dizer que minha visão do vinho nacional mudou totalmente em 1999 com a primeira viagem aos vinhedos da Serra do Nordeste Gaúcho, ou simplesmente Serra Gaúcha. Aldemir Brandelli, João e Juarez Valduga – entre muitos outros – já os conhecia 4 ou 5 anos antes em São Paulo, mas nossa cidade transforma as pessoas em personagens pasteurizados. Lá na sua terra o homem do vinho faz parte do cenário de criação.
Portanto, na próxima viagem de negócios, reserve um momento para você. Bento Gonçalves fica a 2 horas de Porto Alegre. Vale a pena alugar um carro e dar uma esticada. Ou vá de férias mesmo: normalmente o Carnaval coincide com a época de safra naquela região. Várias vinícolas possuem quartos, além dos hotéis localizados no Vale dos Vinhedos e na área urbana. Existe até companhia de turismo com foco nesse tipo de programa.
Saindo do Brasil, algumas cidades são privilegiadas: Santiago do Chile e Viena, por exemplo, tem áreas vinícolas próximas. Aí um táxi pode ser uma alternativa interessante. Um trem rapidamente leva o turista em Paris para a região de Champagne.

Algumas regras são importantes:
Programe com antecedência, estudando a região a ser visitada e contatando as empresas que se quer conhecer, seja diretamente, seja através de seus representantes ou importadores. Muitas vezes existem roteiros da região desenvolvidos pela entidade de turismo local.
– Não espere visitar mais de duas ou três vinícolas ao dia, de forma que você possa tranquilamente cumprir horários e aproveitar o que está sendo conhecido, sem atropelos.
Informe-se sobre o produtor e sobre a região, para que o aprendizado seja mais eficaz.
– Várias delas cobram pela recepção e degustação de vinhos. No caso do Vale dos Vinhedos, Bento Gonçalves, existe uma ação da APROVALE em padronizar as visitas. Informe-se.
– É polido que se compre vinhos da empresa visitada quando existe estrutura de comercialização dos seus rótulos. É uma maneira de retribuir o acolhimento e reconhecer a qualidade dos produtos.
– De volta para casa, não esqueça de agradecer quem o atendeu ou quem conseguiu o agendamento. Um e-mail de agradecimento é o suficiente.
Boa viagem.

publicado originariamente em 03/2008 no n.1 da revista FreeTime, que deu ao texto o título ”Como visitar as vinícolas”

[na foto, Sandro Valduga recebe Pagliari na vinícola Terragnolo]