Jurançon – uma região ainda a ser descoberta

 

Quando escolhi Jurançon para ser a primeira região a visitar por conta própria, seu vinho era pouco conhecido. Nesses 17 anos, a situação não melhorou: se naquela época podiam ser encontrados por aqui rótulos do Domaine Cauhapé e do Clos Uroulat, hoje parece ser o Clos Lapeyre seu único representante.

Em setembro de 2001 aluguei um carro em Barcelona e fui para Pau, cidade do sudoeste francês à beira dos Pirineus. Pela sua posição entre o Jurançon e o Madiran, Pau ‒ mais próxima das vinícolas da primeira região ‒ é uma boa opção para se hospedar.

A escolha inaugural foi espetacular: o Domaine Cauhapé, em Moneim. Dos 4 ha em 1980, a propriedade em 2001 já tinha 35 ha, e hoje 43 ha. Mas os vinhedos ali já existiam no século 16.

A grande estrela é a variedade Petit Manseng, essencial aos grandes vinhos doces da denominação Jurançon. As uvas são passificadas pela ação do sol e da geada. O Quintessence du Petit Manseng é um dos grandes vinhos de sobremesa franceses. Já Gros Manseng é uma casta utilizada principalmente para a denominação Jurançon Sec. As duas são responsáveis por 95% do encepamento da região.

Na minha visita fui recebido pelo proprietário Henri Ramonteu, uma das figuras chaves da região. Vigneron artisan, ele é um auto-didata. Dentre os brancos degustados, destaque para o Noblesse 1998 e Noblesse 1999, ambos Jurançon Sec elaborados com a Petit Manseng, com seu paladar seco e intenso. Dentre os moelleux, o fresco e gastronômico Symphonie de Novembre 1999, o harmonioso Noblesse du Temps 1998, o hedonista Quintessence 1996, e o surpreendente Folie de Janvier 1998, de uvas colhidas em 6 de janeiro de 1999, com excelente cremosidade e acidez.

Se naquele momento aos vinhos Jurançon Sec não era dada muita atenção, isso foi aos poucos se alterando. A longevidade desses secos era sub-avaliada. Em 2006, época em que brancos não frequentavam decanters, um sommelier inglês decantou o Jurançon Sec que pedi, mas essa história é comprida e qualquer hora eu conto.

O próprio Henri Ramonteu começou a elaborá-los com mais estrutura, em alguns deles usando a rara uva Camaralet, além da Courbu e da Lauzet.

Bom, depois de tanto tempo, é hora de voltar à região e acompanhar as mudanças.